sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Os encantos de Dona Onete no encontro "Vozes de Mestres"


Yorranna Oliveira / Fotos: Carol Peres / Folia Cultural

Ela entra calçada e logo se desfaz das sandálias. “Porque carimbó se dança descalço”, explica. E assim toda brejeira, Dona Onete começa o show, muito bem acompanhada pelos percusionistas do Trio Manari. 


É noite de cultura popular no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, o Hangar. Dona Onete e Trio abrem o primeiro dia do “Vozes de Mestres - Festival Internacional de Cultura Popular”, que passa por Belém entre os dias 24 e 29 de novembro com oficinas, debates, exposição, cinema e teatro.


Toda faceira e cheia de charme, Dona Onete ia seduzindo a platéia, com o seu carimbó brejeiro como gosta de chamar. “É o carimbó da água doce”, diz.O público devidamente comportado em suas cadeiras, não fica muito tempo quieto no lugar. Os batuques e a cantoria de nossa Mestre de Cultura Popular contagiam pernas e braços, e quase todo mundo se remexe nas cadeiras, cantando e batendo palmas e alguns não resistem e se levantam para dançar. O auditório estava tomado, tinha até gente em pé. Cultura popular é do povo, faltava mais povo no Hangar. Trancada num espaço fechado, parecia quase sufocar. Dona Onete deveria estar ao ar livre, sem as cadeiras amarrando pessoas para sentar. No entanto, isso não tirou a diversão da festa. Festa legitimamente brasileira, onde diversão e cultura cruzam os mesmos caminhos.


Entre um hit e outro, nossa Mestre Popular conversava com o público e contava suas histórias e não poderia deixar de agradecera honraria ao ser classificada como Mestre. “Eu senti o povo do Pará junto comigo. A gente desarruma uma cultura e depois arruma”, dizia sorrindo. E entoava uma canção. O resultado só dava bailados, cantoria e aplausos: “Parece que o show tá agradando, né?!”, conluia.



“Vou descansar um pouco, porque 70 anos não é 70 dias”, justificava Dona Onete, enquanto sentava na cadeira. Nem precisava. Se quisesse, podia até cantar deitada. Ela, sim, pode. E assim, foi contar a história do “Chá de Tamaquaré”. O público se deliciando. “Vocês gostaram né?! Amanhã já tem gente lá no Ver-o-Peso”, brincava.


Uma hora durou a brejeirice de Dona Onete, com direito a homenagem a Mestre Verequete, por quem nossa querida vovó teve a honra de ser julgada, como ela faz questão de dizer. “Ele disse: ‘até que tu cantas bem’. E eu gostei”, lembrou.


Os tambores, batuques e experimentações sonoras do Trio Manari se destacam na homenagem. O público se inclina todinho para ver. Querem chegar bem perto, se possível tocar, mesmo que seja  apenas com o olhar. “Esse é o nosso tambor. E ele também é do Pará. Gente, e eu que pensei ter visto de tudo de batuque”, contava Dona Onete, impressionada com os rapazes do Manari.
E já que na lateral direita dos espaços, havia gente caindo no carimbó, uma cumbia para encerrar a festa. “Cumbia maravilhosa como as coisas do nosso Pará”. Os casais se formaram rapidinho para dançar. O público queria mais. Ainda bem que em seguida vinha o Naná e ninguém ficaria frustrado. “Beijos, beijos, beijos e saudações paraenses”, despediu-se dona Onete, paraoara com muito orgulho.

Um comentário:

Augusto Barros disse...

O show foi realmente incrível. Dona Onete é muito linda, sua música é maravilhosa e a presença dela no palco dispensa comentários.

Sobre a realização do show no Hangar, não posso concordar com a sua visão, Yorrana. As manifestações de cultura popular estão nas ruas, terreiros, barracões, praças. Essa é a natureza dela. Mas levá-la para dentro de um teatro, de uma casa de espetáculos, ou até mesmo de um centro de convenções como o Hangar, é dar-lhe um reconhecimento que até então ela não tem.

É, inclusive, uma forma de valorizar e ajudar na preservação dessas manifestações no seu habitat natural.

Se quiser contribuir com esse texto no site do Vozes de Mestres, fique à vontade. O espaço lá é mesmo para essas conversas - www.vozesdemestres.com